O indelével Divino Amor Ato II
- Loester
- 29 de abr.
- 3 min de leitura
No último fim de semana, o Centro Cultural Renato Russo, em Brasília, foi palco de uma experiência artística memorável: a apresentação da peça "Divino Amor Ato II: Indelével", escrita e dirigida por Gustavo Letruta. Com sessões lotadas nos dois dias de apresentação, o espetáculo — realizado pela Saturno Cultural e com produção executiva de Tainá Ramos — entregou ao público uma obra de arte que transcende os limites convencionais do teatro, fundindo dança, projeção cinematográfica e performance ao vivo em uma narrativa poderosa sobre a complexidade de ser humano.

No elenco, nomes como Fernanda Costa, Avelar, Ju Maluf, Thiago Rocha, Mylena Edna, Paulo Vitor, Laís Monteiro, Issa Meguer, Sabiá e Lukas Martt conduzem a plateia por um mergulho profundo nos sentimentos que nos constituem: pertencimento, maternidade, regiliosidade, rejeição, desejo, amor, solidão e tudo o que pulsa no espaço entre esses extremos. É uma peça que não apenas se assiste — se sente. A proposta estética é ousada e, ao mesmo tempo, extremamente cuidadosa: a nudez presente em quase todo o espetáculo jamais escorrega para a vulgaridade. Pelo contrário, é tratada com respeito, poesia e potência, como instrumento legítimo de expressão artística e afirmação da vulnerabilidade do corpo e da alma.
Ao final da peça, foi aberto um espaço para o público interagir fazer perguntas ao elenco e uma das perguntas foi justamente sobre a dificuldade de se apresentarem nus. A resposta foi no sentido de demonstrar realmente a dificuldade de exporem seus corpos dessa forma, mas que, sem dúvidas, a barreira maior é expor seus sentimentos mais profundos e mexer nas feridas.
Tudo isso tem uma ligação profunda com o meu trabalho e me fez entender o motivo de as minhas modelos e clientes estarem muito mais à vontade depois de alguns minutos de conversa durante o ensaio fotográfico pois, depois de "despirem a alma" e se entregarem a assuntos íntimos e profundos da própria vida, desprender-se das roupas fica muito menos complicado!
A construção cênica do espetáculo é um dos pontos altos. A coreografia dos movimentos, mesmo quando sincronizada, permite aberturas para a improvisação, o que confere frescor, autenticidade e entrega ao que é visto no palco. O diálogo entre as linguagens — teatro, dança, vídeo e voz — se dá de forma fluida e orgânica, transformando o espaço teatral em um organismo vivo que respira junto ao público. Os depoimentos, ora gravados, ora realizados ao vivo, adicionam uma camada documental à obra, ampliando sua força emocional e aproximando ainda mais a narrativa da realidade dos espectadores.
Em um dos momentos da apresentação, o elenco busca integrantes da plateia para subirem ao palco, rompendo a quarta parede e reforçando a proposta de identificação coletiva. A emoção é compartilhada, e o teatro se transforma em rito. Todos ali se tornam, por instantes, parte do mesmo corpo cênico.
"Divino Amor Ato II: Indelével" não é uma peça para apenas contemplar — é para se viver. A resposta do público, que saiu das sessões visivelmente emocionado e reflexivo, é a prova de que a arte ainda tem o poder de tocar, curar e provocar. Em tempos em que o efêmero é regra, uma obra que deixa marcas inapagáveis — como bem sugere o título — se torna não apenas relevante, mas essencial!
Para quem quiser acompanhar o Projeto Divino Amor e ficar por dentro de próximas apresentações, siga o perfil do Instagram @projetodivinoamor.
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